O que fez de Davi um grande homem?


por Kevin DeYoung
Tradução Felipe Schulz  – iprodigo | Adaptado
Todos que conhecem a Bíblia sabem que o Rei Davi foi um grande homem. Ainda assim, qualquer pessoa com alguma familiaridade com a Bíblia também sabe que Davi fez coisas não tão boas. Basta lembrar do pecado com Bate-Seba, o assassinato de Urias e a mentira para encobrir tudo. Isso não tem nada de deleite na lei do Senhor (Sl.2). Também houve o censo motivado pelo orgulho e inúmeras situações em que ele falhou como pai. Para alguém conhecido como “segundo o coração de Deus” (At 13.22), Davi parecia ir bastante segundo o próprio coração.
Com todas essas falhas, o que fez de Davi um grande homem? Alguém poderia mencionar a coragem, a fé, o sucesso como líder e guerreiro. Mas ele foi grande de outras formas não tão conhecidas. Em particular, Davi foi um grande homem porque estava sempre disposto a perdoar os outros e a encarar a realidade do próprio pecado.
Ele foi homem gracioso, sempre pronto a dar uma segunda chance aos seus inimigos. Duas vezes Davi poupou a vida de Saul (1Sm 24; 26), e foi incrivelmente paciente com os xingamentos de Simei (2Sm 16). Mais tarde, Davi perdoaria aqueles que se rebelaram contra ele durante a insurreição de Absalão (2Sm19.16-23). Por muitas vezes Davi se mostrou diferente dos filhos de Zeruia, que viviam atrás de vinganças. Ele sabia perdoar. Mais do que qualquer um antes de Jesus, Davi amava seus inimigos e estava sempre disposto a receber rebeldes de volta e perdoar os que se opunham a ele.
Por outro lado, a atitude bondosa de Davi com seus inimigos não significava complacência com seus pecados. Normalmente, as pessoas bondosas com os outros são mais complacentes consigo mesmas, e as mais exigentes consigo mesmas são mais duras com as outras. Davi era diferente. Era gracioso com os outros e honesto consigo mesmo. Sua grandeza era esta: por mais que pecasse, nunca deixou de admitir. Não encontro uma única passagem em que Davi, ao ser confrontado com suas falhas, tenha deixado de aceitar a repreensão. Quando Natã o confronta pelo adultério, Davi logo lamenta: “Pequei contra o Senhor” (2Sm 12.13). Após o criticado recenseamento, ele confessou: “Pequei gravemente com o que fiz!” (2Sm 24.10).
Davi sabia perdoar, e sabia se arrepender. Nunca culpava os outros por seus erros e não inventava desculpas baseadas no histórico familiar ou na pressão do grupo. Não usava eufemismos com seus pecados. Não se lamentava apenas por causa dos efeitos negativos de seu pecado. Antes, via suas transgressões como uma ofensa a Deus (Sl 51.4). E nunca fugia da luz quando ela revelava sua escuridão. Ao invés disso, ele admitia sua iniquidade e trabalhava para consertar as coisas. Quando pensamos no quanto isso é raro em nossos dias, deveríamos nos espantar que o Rei de Israel, talvez o homem mais famoso da história do povo de Deus da antiga aliança, tenha sido humilde para ouvir as críticas daqueles que estavam abaixo dele e mudar de atitude.
Davi era um homem segundo o coração de Deus porque odiava o pecado mas amava perdoá-lo. Que melhor exemplo do caráter de Deus que esse? Deus não só recebe seus inimigos, mas morre por eles (Rm 5.6-11). Está sempre disposto a mostrar misericórdia aos traidores. Ainda assim, Deus não é bondoso com o pecado. Ele o expõe e nos leva a exterminá-lo (Jo16.8-11; Cl 3.5). Mas é claro, Deus, diferente de Davi, nunca é culpado de pecado. Ele mostra sua condescendência não ao se humilhar perante uma exortação, mas ao tomar forma humana e morrer na cruz por pecadores rebeldes (Fp 2.5-8). Davi era grande, mas nem de perto tão grande quando o Grande Filho de Davi.

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