Severidade ou Diálogo na Educação de Filhos?


por Reinaldo de Paula


A maioria das pessoas reconhece que crianças espancadas serão adultos problemáticos. As pesquisas mostram que 95% dos adolescentes infratores foram espancados na infância. Seus pais ou padrastos usaram de ferramentas ou objetos para bater, provocando sérias lesões em seu corpo, além de usarem o espancamento como meio mais frequente para “corrigir” os maus comportamentos. Os pais pensam que ensinaram à criança, por meio da surra, pois, naquele momento, apenas naquele momento, o comportamento cessa. 

No entanto, os estudiosos da punição já demonstraram, a partir de pesquisas, que o comportamento reprimido reaparece assim que a criança estiver fora do alcance dos pais ou daquele que a puniu. A punição, geralmente, só é capaz de controlar o mau comportamento diante daquele que pune. A criança não aprende que não é para fazer alguma coisa; aprende que não é para fazer tal coisa diante dos pais. Longe deles ela continuará fazendo. E quando não mais tiver medo dos pais, irá enfrentá-los ou fugir de casa.

 É bem verdade que a severidade é provocada pela frustração dos pais não receberem retorno de filhos, seja no desempenho escolar ou referente a outras situações da vida da criança. Geralmente, a severidade é adotada como a primeira reação a ser tomada pelos pais. O diálogo em geral toma o último lugar quando se recebe o boletim recheado de notas baixas do filho. Quando se há o hábito de dialogar, se o diálogo é algo que parte da visão de alguns pais e é possível perceber a dificuldade momentânea ou permanente (se tratando de dificuldades de aprendizagem diagnosticadas) e outros problemas. 

A severidade possui muitas faces e uma das mais frequentes é o questionamento relacionado aos conteúdos propostos durante o ano letivo. É correta a atitude dos pais em se preocuparem com os conteúdos dados em sala de aula? Se tais conteúdos estão em dia? Sim, é correto. O que não é certo é uma preocupação exagerada se os conteúdos estão sendo ministrados à risca, pois é bem verdade que o dia a dia de um professor não é feito só de conteúdos, mas algumas vezes ele precisa parar e conversar com a turma. Afinal, educação formal e informal andam juntos em vários âmbitos sociais.

 Além do mais, existem outras tarefas que fazem parte da rotina de um professor, como planos de aulas, ou seja, como os educadores irão transmitir determinado conteúdo, diários de classe os quais precisam estar devidamente preenchidos, correção de provas com prazos curtos para entrega. Sem contar que às vezes os professores precisam voltar em alguns assuntos que a turma não compreendeu muito bem. Portanto, a severidade não é estendida somente para os alunos, mas para os professores também.

Geralmente a severidade vem com o desejo e a boa vontade dos pais que se auto projetam nos filhos e anseiam que seus sonhos profissionais sejam realizados por eles. O discurso dos pais é o mesmo, somente muda de família: eles querem que seus filhos tenham uma boa formação e consequentemente uma boa profissão para que os filhos não vivenciem o sofrimento vivido por eles.

É importante considerar as facilidades, ofertas e convites à rebelião que as crianças são expostas diariamente e a solução apresentada pelo diálogo. Assim, as crianças não sofrerão com as influências que as cercam por todos os lados. O diálogo é um meio de fortalecer e manter os vínculos já existentes com os filhos. Sem o diálogo, os pais em sua boa intenção de corrigir seus filhos correm um grande risco de serem trocados pelos “amigos” do filho.

 Uma outra face da severidade é a agressão física por parte dos pais. É bem sabido que muitos perdem o controle em momentos de estresse e castigam fisicamente seus filhos. O pediatra Lauro Monteiro defende que é necessário impor limites, mas sem violência. Ele diz ainda que o castigo deve ser aplicado quando o filho age de forma errada, mas não pode ser físico. A criança deve refletir sobre o que fez e a punição tem de ser proporcional à falta. Também é importante que seja aplicada assim que o erro é cometido a fim de que fique claro o motivo da advertência. Para o pediatra, a idéia de que bater é um meio de ensinar os filhos a respeitar limites é equivocada e ajuda a perpetuar uma cultura de violência.

 O diálogo continua sendo a primeira atitude a ser tomada e previne muitas situações de conflito e estresse em nossas famílias e nos ajuda a conservar a unidade no seio familiar. Segundo os autores do livro “Pais e Mães Emocionalmente Inteligentes”, a compreensão dos pontos de vista dos outros nos dá acesso ao que eles devem estar pensando, ao modo pelo qual eles encaram e definem uma situação, ao que eles planejam fazer. Essa compreensão, é claro, se desenvolve com o tempo. Depende do nível de crescimento cognitivo e também é ampliada por nossas experiências de vida.

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